http://paginas.terra.com.br/educacao/marcosbagno/art_preconceito_linguistas.htm
Reproduzo abaixo uma antiga matéria (da década de 90 !) da revista Veja, que considero bem emblemática sobre o preconceito racial. Aliás, acho que já está na hora de se repetir a experiência descrita na reportagem:
DISCRIMINAÇÃO EXPLÍCITA
Em 1967, a revista Realidade, da Editora Abril, fez uma experiência sobre a discriminação racial no país. Designou dois repóresteres — um negro e um branco — para percorrerem os mesmos lugares de seis capitais brasileiras, solicitando os mesmos serviços, a fim de verificar a diferença de tratamento dispensado a um e outro. O resultado foi um diário dramático, sob um título simples e direto: "Existe preconceito de cor no Brasil". Na semana passada, VEJA pôs em campo os repórteres Luís Estevam Pereira, que pelos critérios do IBGE estaria na categoria dos brancos, Adam Sun, que seria colocado entre os amarelos, e o editor-assistente Rinaldo Gama, que seria enquadrado entre os pardos a fim de fazer uma experiência semelhante em São Paulo.
Os três estiveram no bar do restaurante The Place, encravado na região dos Jardins. Estevam e Sun não precisaram abrir a porta — o porteiro fez sua obrigação. Gama entrou no recinto depois de abrir, por conta própria, a porta do restaurante — o porteiro o ignorou. No bar, Gama foi o único dos três que precisou esperar vinte minutos até que um garçom resolvesse lhe oferecer croquetes. Quando saiu, os garçons que estavam próximos a Estevam comentaram entre si: "O negão foi embora".
Numa loja de roupas masculinas, a Richard's, dos Jardins, aconteceu algo bem parecido. Gama entrou e pediu para ver calças de lã.
Uma vendedora o conduziu até um balcão onde havia dois modelos. Estevam entrou e fez o mesmo pedido. Sem pedir licença a Gama, a vendedora retirou a
só calça que ele tinha nas mãos e a ofereceu a Estevam. Disse: "Temos este modelo aqui, que o senhor pode experimentar naquele provador, meu nome é Gláucia, e se o senhor precisar de alguma coisa ó só chamar". Em busca de outra mercadoria, Gama perguntou sobre calças de veludo.
"Não tenho o seu número", respondeu a vendedora. Sobre paletós e gravatas de lã. "Só vou receber na próxima semana", informou Gláucia. Voltou à carga sobre calça de lã. "Do seu número eu só tenho aquela, que está com o outro moço."
Gama saiu. Estevam disse que não levaria a calça porque era cinza e ele queria preta. A vendedora ligou para outra loja da rede e conseguiu reservar um modelo para Estevam. Sun, atendido por outra vendedora, cansou-se de ver diferentes calças de lã e ainda teve informações sobre as diversas formas de pagamento que poderia utilizar.
Na recepção da maternidade do Hospital São Luiz, no bairro de Vila Nova Conceição, Estevam e Sun foram cobertos de atenções, que resultaram em conselhos importantes — como a possibilidade de pagar o parto em cruzados novos ou o que deve constar do enxoval do bebé. Com cada um deles, a recepcionista gastou cerca de dez minutos. Já Gama foi dispensado na hora pela mesma funcionária, que, ao ouvir seu pedido de que gostaria de ter maiores informações sobre a maternidade, respondeu entregando a ele uma tabela de preços. "Está tudo aí", resumiu, voltando a cuidar dos papéis que tinha em cima da mesa.
Revista Veja
Fonte: OLIVEIRA, Tania A. e outros – TECENDO TEXTOS, IBEP, 1ª edição, 1999.
Utilizei este texto num exercício de resumo com as 8ª séries. Apesar de ter muitos fatos o conteúdo é bem simples de ser depreendido.