Premonição Sonhos Literatura
Auto-disciplina
Educação para todos! contato:urfabio@msn.com veja também o blog inicial:
http://urfabio.blogger.com.br
http://ekalafabio.multiply.com
Add to Technorati Favorites
24 de fevereiro de 2007
Steve Biko
Assisto de madrugada pedaço do filme UM GRITO DE LIBERDADE, que conta a históra do ativista negro STEVE BIKO. A luta pelo respeito na África do Sul. Filmes como este poderiam e deveriam passar em horários mais acessíveis.
trailer - cry freeedom
19 de fevereiro de 2007
Pesquisa Marchinhas
http://www.samba-choro.com.br/noticias/arquivo/8172
15 de fevereiro de 2007
Leia quadrinhos !
http://www.volcano.nerdhost.com.br/viewtopic.php?t=113
Para ler use o programa cdisplay
Agora estou lendo a excelente mini-série RISING STARS - Estrelas ascendentes, que tem muito a ver com o seriado de televisão HEROES (que também acompanho pela internet).
11 de fevereiro de 2007
CARTILHA - ABORDAGEM POLICIAL
Pequenas medidas podem melhorar a civilidade nas cidades. Mas elas dependem de atitutes corretas do poder público, dos funcionários públicos que nos servem e do povo em geral, que deve ter consciência, fiscalizar, cobrar e denunciar.
Neste caminho é louvável divulgar esta CARTILHA - ABORDAGEM POLICIAL , material de consciência, que peguei pelo saite http://coletivoperiferia.cjb.net/
Copio o texto de apresentação - fonte: http://www.ovp-sp.org/cartilha_abordagem_policial.htm
ABORDAGEM POLICIAL
Esta cartilha, elaborada em 2006, faz parte da série Construindo a Cidadania, e é uma seqüência do trabalho realizado pelo CDHS (Centro de Direitos Humanos de Sapopemba), com a colaboração de diversas personalidades e entidades que atuam na defesa dos Direitos Humanos em São Paulo. inclusive o OVP-SP.
A cartilha descreve o que pode e o que não pode fazer o policial quando aborda uma pessoa, quando entra em sua casa, bem como o tratamento que deve ser dispensado ao cidadão na delegacia de polícia. A cartilha também mostra quais informações são importantes para fazer uma denúncia de abuso de poder e os caminhos para fazê-la.
Clickando aqui você poderá, após aguardar alguns instantes, abrir o arquivo em Word e imprimi-lo da seguinte forma: frente e verso numa mesma folha A4 ou, após imprimir folha por folha, fotocopiá-las frente e verso na ordem numérica das páginas. Ele já vem sob a forma de uma pequena cartilha que poderá ser montada e distribuída.
Trilogia Qatsi
Trilogia Qatsi
que me deixou muito curioso. Parece ser uma obra no estilo de Baraka (1992, e que já saiu até em bancas de jornais e hj pode ser comprado em lojas de encalhes na estação da Luz).veja clipe da terceira parte de Qatsi:
Naqoyqatsi
No Brasil também temos um diretor na linha de Godfrey Reggio e Ron Fricke - filmes c/ imagens e sem falas - Trata-se do Marcelo Masagão, autor de "Nós que aqui estamos por vós esperamos" e "1,99 - um supermercado que vende palavras".
cena do filme "Nós que aqui estamos por vós esperamos" - Fred Astaire & Garrincha
10 de fevereiro de 2007
Tim Burton
Imagem mais recente de Vandré
http://urfabio.blogger.com.br/2006_01_01_archive.html#37998834
Leia a matéria que aparece nesta revista:
http://images.ekalafabio.multiply.com/content/movie/ekalafabio:video:9/ekalafabio/9.pdf/O64m,RJZTP,Zkt,jDdxblA/Vandre_Vip119_1995.pdf
Geraldo Vandré na revista do Brasil
Reproduzo a notícia de: http://www.revistadobrasil.net/cultura.htm
Cultura |
O último disco de Vandré
LP gravado na França, junto com músicos que mal se conheciam,
expressa todas as dores do compositor que incendiou festivais
e aborreceu generais. Pensou-se que fosse a retomada
de uma obra. Mas foi o seu réquiem
Por Vitor Nuzzi
|
São 41 minutos e 57 segundos, distribuídos em oito faixas. Peças menos conhecidas, mas cultuadas pelos admiradores. “Não me canso de ouvir”, diz, por exemplo, o cantor Jair Rodrigues, intérprete da clássica Disparada. O último LP de Geraldo Vandré foi gravado no final de 1970, na França, onde o cantor sofria as dores da distância de seu país – que havia deixado em fevereiro de 1969 – e de uma separação. É um álbum triste, mas nem por isso menos vigoroso. Das Terras de Benvirá chegou ao Brasil apenas em 1973, poucos meses depois do nebuloso retorno de Vandré. Ninguém imaginava, mas o que poderia ser a retomada de uma carreira foi, na verdade, o canto final, em um disco nascido em um pequeno quarto de Paris.
Para a gravação, foi reunida uma trupe que mal ensaiou. Na verdade, os músicos tampouco se conheciam. O violonista Marcelo Melo, hoje com 60 anos, estudava na Bélgica e foi colega de classe do aspirante a fotógrafo Sebastião Salgado. Melo tivera alguns poucos encontros com Vandré ainda no Brasil, anos antes. Naquele início dos anos 70, aos 24 anos, ainda não sabia se seria engenheiro agrônomo ou músico. Em 1971, formaria o Quinteto Violado, que existe até hoje – e em 1997 gravou um CD só com músicas de Geraldo Vandré, inclusive a até então inédita República Brasileira. O espanhol Francisco Peña Villar, que nos créditos de Benvirá aparece como Kiko de Carinho, conheceu Vandré em uma loja de discos, tocando harmônica. Havia ainda o baixista Murilo Alencar, que havia vendido o violoncelo e tocava na rua.
“Foi uma coisa quase de improviso. Parte das músicas foi composta no próprio estúdio. Ele (Vandré) não tinha estrutura psíquica para ensaiar nada”, lembra Marcelo. “Ele estava se separando de uma mulher que conhecera no Chile, muito desestruturado emocionalmente. E não conseguia pensar na idéia de voltar a trabalhar no Brasil.”
Aos 66 anos, Xico (como o galego Francisco Peña costuma ser chamado) lembra até hoje de seu primeiro encontro com Vandré. “Foi num frio dia de novembro (de 1970). Diante da loja, reparei num cara que estava lá dentro a experimentar uma harmônica. Eu já ia embora, mas de repente voltei e entrei na loja pela curiosidade de escutar, talvez, um bom harmonicista. Fiquei diante de Vandré, que era quem estava com o instrumento, e ficamos os dois a nos olhar, como dois bobos, sem dizer nada.”
Desse encontro, resultariam vários outros na casa de Xico – na rua Vaugirard, no bairro latino de Paris –, com Vandré e Marcelo, que o então estudante espanhol já conhecia. Foi quando surgiu a proposta para gravar um LP. “Desde então, nos encontrávamos regularmente para tocar daquele jeito nada organizado, no meu quarto. Era o nosso local de ensaio”, recorda Xico, ainda hoje amigo de Marcelo e apreciador de música brasileira.
Todo o processo de gravação durou cerca de três meses, estima o violonista. No meio, aconteceu o episódio da prisão de Vandré e amigos, encontrados com haxixe. “O embaixador do Brasil na França não ajudou em nada”, lembra. O embaixador naquele período era Aurélio de Lyra Tavares, ex-ministro do Exército e integrante da Junta Provisória que substituiu Costa e Silva na Presidência da República, até que Emílio Garrastazu Médici tomasse posse, em 1969. Morto em 1998, Lyra Tavares era paraibano de João Pessoa, a exemplo de Vandré – que acabou expulso da França.
‘Infotografável’
O disco saiu na França apenas como compacto, La Passion Bresilienne, com duas faixas, pelo selo Le Chant du Monde (um barbudo Vandré é apresentado como “acusado de subversão”). Foi lançado no Brasil, pela Phonogram, no fim de 1973. Vandré havia retornado em julho. A fotografia da capa foi feita por João Castrioto, que hoje, aos 65 anos, mora em Niterói, no Rio de Janeiro. “Fui buscá-lo na casa dos pais, no Flamengo, e o levei até o Alto da Boa Vista. Ele estava infotografável, muito sofrido”, recorda João, que tem no currículo dezenas de fotos para discos, inclusive a do LP Jóia, em que Caetano Veloso aparece nu, com a mulher Dedé e o filho Moreno. O episódio rendeu uma prisão ao fotógrafo.
A arte da capa, o rosto de Geraldo Vandré dentro de uma gota, foi obra de Aldo Luiz de Paula Fonseca, então estudante de Belas Artes que trabalhou durante dez anos com LPs e hoje, aos 59 anos, é artista plástico. “Difícil foi fazer a gota, por incrível que pareça. É de vaselina.” A imagem obtida é resultado da mistura de duas fotos. “E não tinha computador”, recorda Aldo. “Não lembro de quem foi a idéia da gota, mas sei que sou fã dele até hoje. Hora de Lutar era meu disco de cabeceira. Anos depois, dei de cara com essa chance de fazer a capa.”
Xico conta que não tinha a sensação de estar participando da gravação de um disco. “Falávamos da gravação, juntávamos os três no meu quarto, tocando sempre daquele jeito, sem mais explicação, nem estudo das entradas de voz ou da gaita. Fui improvisando. Vandré gostava assim, e então era eu quem decidia quando entrar, como tocar.” Foi assim que fizeram um dos álbuns mais marcantes da música brasileira. Da Europa, Vandré voltou ao Chile e perambulou pela América Latina. Em 1972, ganhou no Peru um festival com Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve, parceria dele com Manduka (morto em 2004), filho do poeta Thiago de Mello, que conviveu com o compositor paraibano no Chile. “Gravada com Soledad Bravo (cantora venezuelana), a música chegou a ser a canção nacional dos asilados brasileiros na Europa”, lembra Thiago.
De personalidade forte, Vandré sempre foi um parceiro difícil, mas nem por isso deixou de ser cativante. Marcelo Melo conta que não conseguiu autorização para gravar República Brasileira, em 1997, e decidiu assumir a responsabilidade. “Ninguém consegue ajustar um trabalho com ele. Mas se ele sentar numa sala e começar a tocar, você pára, escuta e se emociona.”
Agora só silêncio
Geraldo Vandré deixou o Brasil em fevereiro de 1969, e seu primeiro destino foi o Chile. Amigos o disfarçaram para que ele parecesse mais velho e arrumaram um passaporte falso. Desde dezembro de 1968, após a decretação do Ato Institucional nº 5, que o regime militar deu “legalidade” à censura de obras e perseguição de opositores, o cantor permaneceu escondido. Havia boatos de que ele não apenas seria preso, mas que haveria grupos interessados em matá-lo, por causa de sua música mais famosa, Pra não Dizer que não Falei das Flores, ou Caminhando, que deixou o público furioso ao perder o primeiro lugar do Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, e fora considerada uma afronta pelos militares.
Mas Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, nome de batismo de Vandré, tem obra bem mais abrangente. Especialistas destacam a busca do compositor, que surgiu na época da Bossa Nova, por outras sonoridades – e também por uma música de maior preocupação social. Disparada (parceria com Théo de Barros), de 1966, que dividiu o primeiro lugar do festival da Record com A Banda, de Chico Buarque, já mostra esse preocupação, assim como Canção Nordestina. Mas o repertório de Vandré inclui várias composições românticas, como Pequeno Concerto que Virou Canção, Quem Quiser Encontrar Amor (com Carlos Lyra), Rosa Flor (com Baden Powell).
Com 71 anos, completados em setembro passado, ele vive recluso, faz viagens constantes e prefere o silêncio, embora ainda componha. Em todo esse período, a única obra conhecida é Fabiana, composta em 1985 em homenagem à Força Aérea Brasileira. O seu endereço mais fixo continua sendo em São Paulo – ele mora há anos em um apartamento modesto na região central. Fez algumas apresentações no Paraguai, no início dos anos 80. No Brasil, nenhuma. E também não relança os discos. Das Terras de Benvirá foi o quinto e último.
Leia mais sobre Vandré:http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=277600
Veja Vandré cantando Aroeira no youtube - video de 1967
8 de fevereiro de 2007
Re-início das aulas: "Uma lição inesperada"
http://revistaescola.abril.com.br/especiais/
CRÔNICA
Uma lição inesperada
No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria. Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos. Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd.Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens, umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele. Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.
Crônica de João Anzanello Carrascoza,
ilustrada por Daisy Sartori
PLANO DE AULA À PÁG. 56
.
CONTOS ESCOLA 23
7 de fevereiro de 2007
Contos sugeridos para sondagem
Stanislaw Ponte Preta
Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível a qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à guisa de senha. Parou debaixo do poste, acendeu um cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas. Imediatamente um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.
Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou:
Siga-me! - foi a ordem dada com voz cava. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal-iluminado e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.
Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu e a porta abriu-se discretamente.
Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de agricultor parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em seguida e disse: "É este".
O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxera o dinheiro. Um aceno de cabeça foi a resposta. Enfiou a mão no bolso, tirou um bolo de notas e entregou ao parceiro. Depois virou-se para sair. O que entrara com ele disse que ficaria ali.
Saiu então sozinho, caminhando rente às paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um táxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:
- Julieta! Ó Julieta... consegui.
A mulher veio lá de dentro euxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo. Ali estava: um quilo de feijão.
Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta
Uma Vela para DarioDalton Trevisan
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág.20.
Este texto faz parte dos 100 melhores contos brasileiros do século, seleção de Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva.
Pro dia nascer feliz
Tive a oportunidade de assistir no cinema o documentário PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim. Gostei muito, por ser explícito ao mostrar a realidade da escola e, de certa forma, defender a literatura como expressão. Algumas cenas beiram o sublime pela inteligência ou coragem na elocução da verdade mais íntima - a mais secreta. E todos sentem isto. E todas as escolas têm problemas como os mostrados no filme. Imperdível.
Veja o saite do filme: http://www.copacabanafilmes.com.br/prodianascerfeliz/index.html
Leia resenha em: http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/post.asp?cod_Post=47473
E assista trailer pelo youtube: