31 de janeiro de 2009

Matéria na Revista A Rede 36, maio de 2008

Retirado de: http://www.arede.inf.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1445&Itemid=99

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Rádio escolar, agora pela web.
20 de Maio de 2008

Mais de três anos após se tornar lei em São Paulo, o programa Educom.rádio muda de nome e enfrenta a falta de recursos.
Carlos Minuano

Foto: Eduardo Fahl Quando chegamos à escola municipal Fernando Gracioso, em Perus, região norte de São Paulo, fomos surpreendidos por uma menina com uma câmera de filmar na mão e muito provavelmente com várias idéias na cabeça. Para Katlyn Nunes, de 12 anos, e para a maioria dos alunos daquela escola e de outras da rede municipal, manejar câmeras, utilizar gravadores feito repórteres, fotografar ou produzir programas de rádio, já não é novidade. A escola integra o programa Nas Ondas do Rádio — anteriormente chamado de Educom.Rádio. Implementado na rede municipal de ensino a partir de 2001, em parceria com a USP, a proposta visa criar rádios escolares, como forma de desenvolver práticas pedagógicas baseadas no uso de recursos de mídia. Porém, após se tornar lei em São Paulo, em 2004, o programa ainda busca novos rumos e enfrenta diferentes problemas, especialmente a falta de recursos.

Por parte dos alunos, vontade de aprender não falta. Pedro Henrique, de 11 anos, já começou a ensinar seus colegas. Assim como Katlyn, ele se tornou monitor e ajuda nas aulas de informática. Pedro também conta que faz entrevistas, participa de campanhas voltadas à comunidade (como a mais recente, de prevenção à dengue), além de estudar a vida no entorno da escola. “Outro dia, saímos para entrevistar o funcionário de uma fábrica de cimento da região, em outro, o primeiro maquinista do bairro, e assim por diante”, explica o garoto.

Se, por um lado, não falta pique aos alunos, o mesmo não é possível afirmar sobre os recursos disponíveis para o projeto educacional. “Nossa rádio está fora do ar há mais de um ano, devido a um problema simples na antena”, lamenta o professor Fábio Nepomuceno, coordenador de informática do colégio. Por coincidência, no mesmo dia em que a reportagem da revista ARede visitou a Emef Fernando Gracioso, no início de abril, a antena finalmente foi consertada.

Do momento em que a idéia começou a ser executada, em 2001, até o final de 2004, quando a Prefeitura de São Paulo encerrou o contrato com a USP, 455 escolas aderiram ao projeto; 11 mil professores, estudantes e outras pessoas da comunidade passaram por capacitação no Núcleo de Comunicação e Educação da USP; e 272 escolas receberam o equipamento para a produção das rádios escolares. Mas, apesar dos números apontarem avanços relevantes, como a redução de até 50% das depredações e furtos na escolas, a idéia das emissoras de curto alcance nas escolas não avançou.

Carlos Lira, atual coordenador do projeto na Secretaria Municipal de Educação, admite a existência de problemas. As dificuldades na transmissão, diz ele, devem-se a problemas de estrutura nos prédios das escolas e ao alto custo do kit e da manutenção dos equipamentos. Mas ele também destaca problemas de gestão na própria escola. “Todos os anos, ocorrem mudanças de professores e o responsável pelo projeto acaba saindo, prejudicando a continuidade das ações.”

Foto: Eduardo Fahl
Para katlyn Nunes, o uso
de recursos de mídia já
não é novidade
Questionada sobre o número atualizado de escolas com rádios escolares em funcionamento, a assessoria da prefeitura não soube informar. O coordenador do projeto Nas Ondas do Rádio também não respondeu, embora afirme que há cerca de 150 ações de educomunicação em desenvolvimento. Segundo ele, há um levantamento em curso, mas os dados não estão disponíveis. E discorda que as ações tenham encolhido. “O projeto radiofônico representa uma de nossas frentes, mas estamos com outras soluções pedagógicas interessantes.” Refere-se aos laboratórios de informática para capacitação de professores no uso de mídias digitais (webradio, por exemplo). “Vamos fazer a educomunicação por meio da tecnologia.”

Nos laboratórios, explica o coordenador, são produzidos programas de rádios publicados na internet em podcast. “O computador tem sido o grande recurso para produção midiática nesse ambiente, junto com softwares como o Audacity (editor de áudio) e, agora, o Zara Radio (edição e programação digital), que possibilitará transmitir programas de rádio produzidos pelos alunos.

“Hoje, é possível criar uma estação de rádio muito mais barata do que com o chamado kit Educom; basta um computador, um amplificador e caixas acústicas”, argumenta o coordenador. O problema, contudo, é que uma radioweb precisa de acesso à internet e computador para ser ouvida — e muitas dessas escolas estão em áreas de alta exclusão digital. As emissoras poderão falar com o Japão, mas dificilmente com suas comunidades. O kit Educom mencionado é composto por mesa de som, transmissor, caixas receptoras, tape deck, antena, microfones e gravadores de reportagem. Ofereceria alcance de até 1 km no raio da escola. Resta saber o que será feito no caso dessas 255 escolas que receberam o kit.

Foto: Eduardo Fahl
Laboratório de Informática
da escola Fernando Gracioso
A situação piora, se levarmos em conta que, em 2004, o material radiofônico já não era usado em 39% das escolas equipadas, por estar com defeito ou, simplesmente, abandonado. O Educom.rádio se tornou lei municipal (13.941), a partir de projeto proposto pelo vereador Carlos Neder (PT). Foi sancionada pela então prefeita Marta Suplicy (PT), em 28 de dezembro de 2004.

Para um dos principais mentores do projeto, o professor e coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, Ismar de Oliveira Soares, problemas de licitação, equipamentos com defeitos, atraso na entrega e dificuldades com manutenção prejudicaram a continuidade do programa, que ele ainda considera importante, mesmo na web. “Investimento em internet foi o caminho para manter o projeto; não é o equipamento que importa, o principal é o conceito de educomunicação”, explica o professor.



Plataforma eleitoral

Uma equipe de alunos das escolas municipais do programa Nas Ondas do Rádio participa, em maio, da cobertura do 1º Fórum Nossa São Paulo, em parceria com a Unicef e a revista “Viração”. O fórum é uma iniciativa do Movimento Nossa São Paulo, apoiado por aproximadamente 400 empresas. O objetivo do Fórum é pautar propostas e firmar compromissos com os futuros candidatos à prefeitura de São Paulo. A cobertura do Fórum Nossa São Paulo estará disponível através do blog do projeto Nas Ondas do Rádio.

www.blogandonasondasdoradio.blogspot.com


Rádio Xavante

Encerrada a participação da USP no Educom.Rádio em São Paulo, um dos mentores do programa, o professor Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, continuou trabalhando com a metodologia. O caminho, segundo ele conta, foi buscar parcerias. No Ministério do Meio Ambiente, coordena o projeto Educomunicação Socioambiental para elaboração de ações na área de preservação ambiental, e, com o Ministério da Educação, levou rádio a 70 escolas. A partir de convênio com o MEC, Ismar viajou por Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e capacitou cerca de 140 professores. Até uma aldeia Xavante foi atendida, onde, até hoje, está no ar uma rádio produzida pelos índios, afirma o professor.

www.usp.br/educomradio/



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