14 de julho de 2005

Foucault e Educação (de novo!)

"É justamente a regra que permite que seja feita a violência à violência e que uma outra dominação possa dobrar aqueles que dominam. (...) O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizálas ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto; de quem, se introduzindo no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras". (p. 25)
“Ora, o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esse discurso e esse saber. Poder que não se
encontra somente nas instâncias superiores de censura, mas que penetra muito profundamente, muito sutilmente em toda a trama da sociedade. (...) ( p. 71)
(Foucault, 1989, Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal.)

citado em: A EDUCAÇÃO COMO ESTÉTICA DA
EXISTÊNCIA: UMA CRÍTICA ANARQUISTA AO CONSTRUTIVISMO (2002), Mestrado em História e Filosofia da Educação de Cristina S. Queiroz
de onde retiro este trecho:
"As resistências no âmbito escolar se dão, portanto, a partir do momento
em que as relações se tornam não mais de sujeição, mas de subjetivação, a partir do momento que o controle sobre os corpos for substituído pelo controle do
próprio corpo e que as relações de poder derem lugar às relações de prazer.
Para os libertários, a vida, assim como a educação, é uma prática de
coletivização, de amizade e de solidariedade; são estilos de vida, formas de ver o
mundo, de ver a si próprio e de ver o outro.
(...) Os anarquistas criam uma estética que possibilita a relação entre suas
utopias e sua vida presente.
Eles buscam viver práticas que levem a uma maior liberdade, a uma arte
de viver, pois vivem o dia-dia, o cotidiano.
A pedagogia libertária como estética da existência, representa a interação
das vontades individuais e coletivas do saber, do prazer, do ensinar e do
aprender. Das regras negociadas e não coercitivas, da liberdade do indivíduo mas também do grupo, ampliando a liberdade do conhecimento, da busca e,
principalmente, da formação da subjetividade.
Os anarquistas não separam a educação da vida, ao contrário, juntam-nas
em uma coisa só, buscando maiores espaços de liberdade, afirmando a
autonomia do indivíduo sem deixar contudo, de percebê-la em sua relação com o
outro." (p. 35 e 36)

O "Capítulo 1: As relações de poder", faz um resumo muito bom do pensamento de Foucault pertinente para refletirmos sobre a instituição escolar.

Estou lendo esta obra (na tela do computador! são só 156 páginas), e garanto que vale a consulta. No cápitulo 2: Pedagogia Libertária, a autora recupera a ideologia e uma série de experiências libertárias bem sucedidas. No cápitulo 3: Crítica ao Construtivismo ela defende a tese de que a pedagogia construtivista não é, realmente, "moderna" nem favorece a autonomia e visão crítica dos educandos (em suas palavras: "questão do construtivismo e sua aproximação com o ensino tradicional e autoritário", nota na p. 51).
.
Por que o ideário Anarquista é tão fascinante e tão pertinente no mundo global de hoje? Mais uma citação presente no texto:

"As crianças não pertencem aos seus pais nem à
sociedade, pertencem a si próprias à sua liberdade. Como as
crianças, até a idade de sua emancipação, são só
potencialmente livres devendo estar, portanto, sob o regime da
autoridade. Os pais são seus tutores naturais, é verdade, mas o
tutor legal e supremo é a sociedade, que tem o direito e o dever
de ocupar-se delas, porque seu próprio futuro depende da
direção intelectual e moral dada às crianças. A sociedade só
pode dar liberdade aos maiores com a condição de
supervisionarem a educação dos menores." do mestre BAKUNIN,
apud GALLO, 1990:163; Educação Anarquista: Por uma Pedagogia do Risco. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação)

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