16 de janeiro de 2008

Conto delirante (reblogado)

"Nada posso lhe dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível seu próprio mundo e isso é tudo" (Herman Hesse)



Texto abaixo originalmente publicado em:
http://www.urfabio.blogger.com.br/2004_12_01_archive.html


23.12.04

CONTO DELIRANTE

Esta história me foi psicografada num momento de febre, quando fiquei doente no mês de novembro. Só agora, mais de um mês depois, já a muito curado, encontrei tempo para tentar reproduzi-la da maneira como me ocorreu.

ESSE É UM CASO REAL

Já virou chavão dizer que a estória é real ou baseada em fatos reais. No entanto, garanto que este caso é real. Não posso provar. Como vocês próprios poderão confirmar no fim do relato, todos os documentos capazes de nos indicar a veracidade dos fatos foram destruídos. Vamos ao relato, traduzido do original de maneira estritamente literal.

OS FATOS

Eu era professor numa escola do interior a pouco tempo. Por algum motivo, quando um homenzinho muito tímido foi perguntar por alguém que entendesse de coisas estranhas, indicaram a minha pessoa. Não quis me dizer o que, de estranho, queria que eu visse, mas aceitei acompanha-lo até sua casa.
Na humilde casinha fui recebido por sua esposa, tão pequena e tímida quanto ele. Levaram-me até o quarto onde queriam que eu visse suas filhas, gêmeas recém-nascidas... e eu vi! Estavam flutuando sobre o berço. Uma leve luz saindo de seus corpos. Descrever o que senti naquele momento... tive vontade de chorar... de rir... O casalzinho me olhava cheio de terror. Achavam que poderiam querer matar suas filhinhas, que elas eram bruxas. Perguntei se isso sempre acontecia. Sempre. Só quando dormiam. Peguei com todo o cuidado uma das meninas. Ela acordou e deixou de flutuar.
A partir daquele momento passei a ir na casa do casalzinho todos os dias. Levei sete dias para conseguir acordar uma das meninas fazendo com que ela continuasse a flutuar. Quanto esforço. Quanto cuidado. Resolvi não acordar a segunda, para descobrir se ela conseguiria voar acordada, como a irmã.
Comprei uma casinha ao lado deles e me mudei para lá, para dedicar mais tempo às irmãs. Com toda a atenção ajudei o casal a cuidar das meninas. Principalmente da primeira, que quanto mais crescia melhor conseguia voar. Em poucos meses nenhuma das duas voava mais ao dormir, mas a primeira continuava voando acordada. Ampliei sua casa e construí um grande galpão, todo acolchoado, no funda dela, para que a primeira voasse. Assim que fizeram 3 anos, passei a me dedicar a fazer a segunda voar também. A primeira fazia de tudo para ajudar, e a segunda às vezes até conseguia, mas apenas segurando a mão da irmã ¿ era soltar, ela caia.
O quanto pesquisei... fui atrás de toda a literatura relacionada. Levitação, telecinese, magia, parapsicologia, gibis de Superman, Lanterna Verde, X-Men, o Gerald Snoble, inventado por Will Weisner e Jules Pfeiffer . Troquei telefonemas e correspondências com especialistas no assunto, sempre omitindo minha verdadeira identidade e sem levantar nenhuma suspeita sobre a existência das gêmeas. Escrevi milhares de páginas de descrições de cada fato relevante da vida das duas meninas, desenhos, gráficos, fotos. Meus colegas estranhavam minha profunda amizade com o casal, mas foi fácil explicar minhas pesquisas, dizendo que eu estava fazendo uma tese muito complexa sobre o desenvolvimento da criança.
Quando fizeram 6 anos, resolvemos levar a primeira para voar ao ar livre. Esperamos um dia calmo de verão, à noite, quando ninguém nos veria, e fomos até a beira do lago. E ela vou. Meu Deus, que coisa linda. Lamentei não ter uma câmera naquele momento... Ela deu um giro pelo lago, foi a tão grande altura, e voltou, pousando suavemente. Não tive palavras. A segunda olhava, cheia de inveja.
No dia em que foram para a escola pela primeira vez, assustei as crianças e até os pais com tantas recomendações. Imaginei todas as situações que poderiam acontecer, até mesmo um incêndio! Tudo o cuidado que deveriam ter para que ninguém descobrisse o segredo.
Um dia estávamos no galpão, tive uma idéia. Percebi como as duas estavam cansadas dos exercícios, que havia desenvolvido para que a primeira conseguisse ensinar a segunda a voar. Falei: ¿Olha, quero que vocês durmam. Como faziam quando eram bem pequenas, quero que vocês sonhem que estão voando juntas¿. Elas prontamente se deitaram e, logo logo, estavam dormindo. Fiquei olhando e fazendo anotações. Mas eu mesmo devia estar mais cansado do que elas, porque logo cochilei... quando abri os olhos, as duas estavam lá... flutuando, sem que a primeira segurasse a mão da segunda. Uma leve luz saía de seus corpos.
¿Você aprendeu a voar! Devo estar sonhando...¿, eu disse. A segunda falou, ¿Não é sonho não professor, o senhor está acordado.¿. E eu, ¿Querida, vocês é que são meu sonho¿. Cada uma delas pegou uma de minhas mãos, e a primeira falou, ¿Então porque o senhor não voa com a gente...¿ E lá estava eu. Flutuando. Soltaram minhas mãos, pensei que iria cair. Fiquei balançando no ar, desengonçado, as duas rindo muito da minha falta de jeito.

EPÍLOGO

Algum tempo depois, resolvi ir embora. Deixei a escola e me despedi da família. Não havia mais o que ensinar a ambas. Dei algum dinheiro e todas as recomendações possíveis, como manter o segredo, sugestões de profissão, com que tipo de jovem deveriam namorar... Resolvi destruir todos os estudos e materiais que havia produzido. Decidi que, de todos aqueles anos de pesquisa, só iria sobrar este relato, como testemunho anônimo do que aconteceu no mais profundo segredo. E eu? Eu aprendi a voar.



Transcrito por f.r.n., 23 de dezembro de 2004.

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Leia um outro conto meu escrito na mesma época em:
http://ekalafabio.multiply.com/photos/album/4/Destaques#5

Fábio.

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