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15 de fevereiro de 2008

Marcos Bagno na "Caros Amigos" 131

Merece propaganda gratuita revista Caros Amigos n. 131, fevereiro de 2008, com o linguísta Marcos Bagno na capa.
O reconhecimento pode tardar, mas não falha. O que este cara fala é importante porque é justo. Vale a compra.


Retiro de:
http://carosamigos.terra.com.br/nova/ed131/entrevista_marcos.asp



"É preciso acabar com a cultura do erro"


Certamente por ignorância, a gente "descobriu" só agora um representante do grupo de lingüistas que está virando de cabeça pra baixo o português que todos aprendemos na escola. Ele vem informar que o que vale agora é o português brasileiro, a lingua que o povo fala, que as famílias falam, que nós falamos, e não aquela que pregam os manuais de redação ou os "consultórios" gramaticais dos jornais. Apostamos que a maioria de vocês, leitores que sabem ler, será surpreendida por este papo impressionantemente revelador com o autor do livro Preconceito Lingüistico (hoje na 49º edição), Marcos Bagno.

entrevistadores carlos azevedo, mylton severiano, marcos zibordi, mariana santos, michaela pivetti, renato pompeu, roberto manera, rodrigo aranha, thiago domenici, vinícius souto, sérgio de souza / fotos marcos muzi


trecho 1

THIAGO DOMENICI Quando começou o seu interesse pela lingüística?
Desde criança me interessei por línguas em geral, pelo fenômeno da linguagem, sempre gostei de ler e de escrever, e aí, conseqüentemente, inventei que queria ser escritor.


MYLTON SEVERIANO Paulistano?
Não, mineiro, de Cataguazes. Mas desde cedo a família saiu de lá e a minha formação básica foi no Rio de Janeiro, depois Brasília, onde comecei a graduação em letras, e terminei na Universidade Federal de Pernambuco, fiz lá o mestrado em lingüística. Depois o doutorado em língua portuguesa aqui na USP. Por causa do meu histórico familiar – meu pai foi militante do Partido Comunista –, tentei achar um caminho que pudesse associar o meu interesse pela linguagem às questões sociais, antropológicas, políticas. Acabei chegando na sociolingüística, disciplina que trata dessas relações da língua e das pessoas que falam as línguas. Existe na universidade uma certa corrente que gosta de estudar a língua como se ela fosse falada por ninguém, sem levar em consideração os fenômenos sociais inevitáveis que circulam em torno do uso da língua em sociedade.



trecho 2

MARCOS ZIBORDI A linguagem da Internet é necessariamente um rebaixamento da língua?
Do ponto de vista científico, a gente nunca fala que existe uma forma mais nobre ou inferior ou mais rebaixada de usar a língua. Na Internet há um uso da língua com suas características e suas peculiaridades e a gente tem que encarar dessa maneira.


"Não existe norma mais nobre ou inferior de usar a lingua"



trecho 3

CARLOS AZEVEDO A gente ouve dizer que a língua está se vulgarizando, perdendo a sua harmonia, a sua beleza. Isso está acontecendo ou é uma visão preconceituosa?
É recorrente esse discurso de que a língua de hoje representa um estado deteriorado de uma suposta época de ouro no passado. A gente encontra isso em qualquer língua, em toda a história, desde pelo menos o século 3 a.C., e para o lingüista isso não faz o menor sentido. As línguas se transformam, mudam nem pra melhor, nem pra pior, simplesmente mudam para atender às necessidades cognitivas e interacionais de seus falantes. Porque, se quiséssemos manter a pureza do português, teríamos que falar latim, mas o latim já é uma língua derivada de outra, então, se a gente quisesse manter a pureza do latim, a gente teria que falar indo-europeu, que é uma língua falada 5.000 anos antes de Cristo.


A edição CA131 impressa com a íntegra desta entrevista JÁ ESTÁ NAS BANCAS!

Ou leia aqui mesmo artigos relativos a este assunto em:

http://ekalafabio.blogspot.com/2007/11/fhc-o-portugus-correto-e-outras.html

(texto do colega Carlos Carota)

e

http://ekalafabio.blogspot.com/2006/08/morfossintaxe.html


30 de novembro de 2007

ABC da miséria nacional - Reblogado (também recebi este por e-mail)

SÃO PAULO - "Sabemos falar muito bem a nossa língua (...). Queremos brasileiros melhor educados (sic), e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria." O que foi isso? Um acesso de esnobismo? Uma manobra diversionista para desviar o foco do mensalão tucano? Inveja e despeito? Um pouco de tudo, mas antes de mais nada Fernando Henrique Cardoso foi vulgar e mesquinho ao açular nesses termos o velho preconceito de classe que ele um dia já combateu.
Que o professor emérito e de carreira internacional tenha tropeçado no idioma nativo justamente quando zombava do metalúrgico pouco letrado é um detalhe cômico que só torna o episódio mais grotesco. O essencial não está, obviamente, no maltrato da língua, o que nem é novidade. O sociólogo um dia já manobrou muito bem as idéias, mas nunca foi um estilista. Seu texto é sofrível. Também nisso é legítimo representante da elite local.
Os tucanos falam muitas línguas, são gente que trabalha e estuda, que estuda e trabalha, disse o príncipe. Pois os estudiosos deveriam ler as 90 páginas da denúncia do procurador-geral Antonio Fernando Souza sobre o valerioduto do PSDB. Está em português, claro e cristalino.
Ali o esquema de rapinagem dos cofres públicos a serviço de Eduardo Azeredo em 1998 é descrito como "origem e laboratório" do mensalão petista. A diferença entre a farra mineira e a que se deu sob Lula seria de escala. Não é uma gincana muito edificante.
"Estamos aprendendo com a Era Fernandina como de fato ficou brutalmente estúpido ser inteligente", escreveu no caderno Mais!, ainda em 2001, o filósofo Paulo Arantes. O "apagão" da inteligência progressista desde então só avançou. E já ficou claro a essa altura que tal breu está relacionado à falta de perspectiva decente para o país. Ou, como disse João Moreira Salles em entrevista à Folha, "nossas ambições se tornaram mais medíocres". É um moço bem-educado. E ele FHC conhece muito bem.

fonte.

24 de novembro de 2007

FHC, o português correto e outras mentiras sobre educação - crítica enviada via e-mail pelo colega Carlos

Bom texto que recebi via e-mail do colega Carlos, o Mudhah. A fala de FHC chega a ser perigosa e irresponsável, já que muitas pessas, inclusive professores, concordam com estes preconceitos sem nem perceberem que é preconceito e achando que escrever/falar segundo uma norma valorizada, ou falar mais de uma língua com disse FHC, equivale a ser inteleligente e competente. Precisamos desconstruir estas idéias e mostrar que o povo pode inventar outras melhores, se quiser.

Divulgo o texto aqui no blog e com certeza vou colocá-lo no grupo do qual participo, o TIC (tecnologias de informação e comunicação) de Pirituba.

Prezados colegas Professores,
Esta é uma sincera e honesta contribuição ao polêmico debate que já se iniciou hoje e promete estender-se por mais alguns dias sobre o tema educação, língua e o atual presidente do país representados na fala de FHC numa convenção do PSDB em Brasília na data de 23/11/2007.
Desculpe-me por incomodar aqueles que não se interessam por este tema ou debate.
Saudações,
Carlos Carota
FHC, o português correto e outras mentiras sobre educação
Carlos Carota-23/11/2007
Odeio utilizar ao escrever o tom prescribente, ou melhor seria talvez valer-me de um neologismo, o prescritivismo pedagógico, que, principalmente nós professores, utilizamos diariamente em nossas falas, aulas ou textos, mas como ajudam-nos entender Bourdieu e Foucault, falar, tomar a palavra, já é um ato político em si, portanto, de disputa de poder, ou pelo poder, então não me eximirei de alguma crítica possível por apelar a meus colegas para tomarem algumas atitudes em relação ao que relato. Também já estou sabendo de antemão que poderão objetar a tal súplica, condenando-me ou simplesmente ignorando minha solicitação.
Pois bem, na data de hoje, na convenção nacional do PSDB, em Brasília, o "nobre" FHC, de quem os últimos dois mandatos todas pessoas decentes e minimante comprometidas com causas sociais gostariam de esquecer, fez críticas pesadíssimas ao atual ocupante do executivo federal, o presidente Lula.
As críticas começaram pelo já manjado preconceito lingüístico contra a variedade do português imaginariamente falada pelo presidente. Uma atitude que revela, no mínimo, um gritante ato de discriminação. Postura contrária até aos documentos oficiais publicados pelo MEC durante reinado de "sua sapiência" e de seu ministro da deseducação, o infesto professor(sic) Paulo Renato de Souza, os PCN. Lá, para quem já teve a oportunidade de ler, há condenações veementes à discriminação das variedades lingüísticas faladas pelos brasileiros.
Claro, como os PCN não são documentos revolucionários, permanecem apenas no apelo ao respeito e tolerância às manifestações das diferentes formas de falar o português no Brasil. Fato que em si já é um avanço em relação à histórica discriminação das pessoas, não casualmente as mais pobres, de regiões menos industrializadas, tais como o NE e áreas rurais de todo o país.
É certo que um documento mais progressista no mínimo defenderia não só o respeito, mas a valorização das diferentes variedades como elemento enriquecedor da humanidade de nós todos, pois é da tradição dos movimentos progressistas a valorização da diversidade como fundamento da convivência pacífica, produtiva e enriquecedora.
Historicamente pode-se perceber que todo projeto homogeneizador é de natureza fascista e visa apenas a facilitação do controle e da vigilância dos governos, controlados por elites religiosas, políticas e econômicas sobre suas populações. Na questão lingüística, sob o pretexto de termos tais como: língua nacional, materna, pátria, vernácula foi a tentativa homogeneizadora que imperou no nascimento dos Estados-Nações europeus no século XIX com a perseguição dos dialetos e diferentes falares nas regiões que nunca coincidiam com as divisas simbólicas do plano político. Tal homogeneização assim foi promulgada no Brasil com o decreto pombalino de proibição do uso da língua geral falada em todo o país, o nheengatu, nas relações cotidianas, bem como no ensino de língua nas escola em detrimento da língua dos colonizadores, o português. Foi assim também no governo de Vargas, fascista, embora alguns discordem disto, com a perseguição e proibição do uso e do ensino de outros idiomas europeus em escolas brasileiras.
Pelo fato do ex-mandatário do país erroneamente indicar que há um português correto, único e coincidentemente falado por alguns bem nascidos apenas, como no caso dele, deixa perceber o quão distante está de fato distante das questões relevantes em educação atualmente, principalmente as do campo da linguagem. Nega, o "ilustre professor" uspiano aposentado (3 aposentadorias, ao todo) até um documento publicado sob seu reinado.
Pena é que nisto infelizmente ele não está sozinho. E talvez seja justamente por isto que possivelmente sua fala até encontre apoio entre muitos de nossos colegas docentes. Creio até que principalmente entre os professores e professoras de língua portuguesa. Estes que talvez por desconhecer os PCN, com seus tímidos avanços na discussão de uma política lingüística menos discriminatória com as variedades do português falado no Brasil, ou por não perceberem o quanto fazem o jogo do poder e da dominação que quer, atendendo aos interesses de uma minoria escolarizada e bem nascida, discriminar a maioria da população que fala o português como todos falam, até o próprio FHC, ajudam tal jogo a continuar cotidianamente nas salas de aula por todo o país. Quantos não são nossos colegas que ficam o tempo todo corrigindo a fala (um equívoco político e erro do ponto de vista lingüístico) dos estudantes quando deveria aproveitar melhor seu tempo junto a eles para reivindicar bibliotecas e condições concretas materiais para que todos pudessem fruir textos escritos nas mais variadas variedades do português, inclusive a que finge dominar, "sua incelença" o ex-rei. Pois é possuindo e fruindo tais materiais que concretamente se aprende a ter o tal "jogo de cintura" em relação à linguagem e os julgamentos sociais a que todos estamos sujeitos. Mesmo que para defender sua variedade lingüística, do ponto de vista da lingüística (da ciência da linguagem) tão boa quanto qualquer outra, portanto ser um cidadão crítico é preciso que os estudantes, bem como os professores, tenham acesso a estes materiais impressos. Pois que prescrições gramatiqueiras servem apenas para reforçar a discriminação, repugnar quem já está à margem da sociedade, portanto, além de não ensinarem ainda acabam funcionando como estratégia de dominação das minorias sobre as maiorias que se sentem inferiorizadas por não falarem e nem escreverem as variedades comuns às elites letradas e ricas das cidades.
Sobre estas questões de política lingüística visando encerrar as idéias que aqui lancei sem, no entanto, esgotar o que se há para falar sobre o assunto, recomendo o livro do professor da UNB Marco Bagno intitulado A norma oculta (Parábola, 2003).
Gostaria de dizer, para finalizar, que FHC demonstrando tamanha ignorância dos fatos educacionais deixa ver também as prováveis causas do descalabro que deixou o campo da educação pública. O único setor que cresceu no seu governo foi o da privada (aqui vale a ambigüidade e o duplo sentido) graças ao títere dos vampiros da educação como mercadoria e fonte de lucros.
Não sendo menos preconceituoso FHC disse que Lula despreza a educação, tanto como política de governo, quanto a própria. Sobre o que Lula pensa sobre sua própria educação não me é franqueado falar. É questão de fórum íntimo do presidente. Mas, de pronto, pode-se entrever aqui novamente um enorme preconceito e equívoco cometidos por FHC por este condicionar inteligência, habilidade e até caráter à escolarização formal. Se isto fosse verdade o doutorzinho da USP teria revelado certamente ter comprado seus diplomas.
Educação como política de governo para FHC, ou o que ele realizou neste sentido em seu reinado, em nada o abona e qualifica para falar sobre o assunto com a autoridade que ousou falar.
A nós, professores, ao menos não podemos considerar correto a postura de FHC. Melhor ainda é que denunciássemos em todos os fóruns que freqüentamos e temos direito a voz o preconceito e discriminação que sua fala comporta. Fala esta que só confirma o lugar social de quem fala, o lugar dos que mandam e não aceitam os historicamente comandados ocuparem este lugar.
Indiferentemente do que faz Lula no governo em relação à educação, que não parece ser grande coisa, o que deve ser destacado por nós é que através da crítica de FHC não é só o Lula o atingido e inferiorizado, mas nós todos brasileiros, uma maioria que fala como Lula, tem história de vida muito próxima da de Lula e que se não teve acesso à escola formal, pública, gratuita e de boa qualidade no tempo devido, isto certamente deveu-se às historicamente construídas e bem defendidas por falas como a do rei combalido, FHC, táticas e estratégias de manutenção de poder, exploração das massas, e manutenção das péssimas condições destes que, no final, ainda são injustamente condenadas e individualmente responsabilizadas por sua atual situação como se pudessem ter tido, num sistema excludente, perverso e massacrante, escolha de fato.
(Carlos Carota é professor de língua portuguesa na rede pública estadual paulista)

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