Recebi dois textos com o tema via e-mail. Reproduzo aqui:
A FAVOR (em tempo, eu sou a favor!)
Penso que é muito fácil apenas dizer não às cotas para negros, principalmente, quando não se é negro, porque não é, em primeira instância, por notas que muitos deles estão sendo inseridos nas universidades.
É muito comovente dizer que os brancos, de hoje, não devem pagar pelo que foi feito com os negros no passado. Claro, apenas os negros, de hoje, devem sofrer calados em seus cantos, sejam em classes altas, médias ou baixas, que é onde estão a maioria.
Se é por merecimento ou não, sou totalmente a favor de toda política de incentivo a melhoria de vida de geracões que foram admoestadas por anos e anos. E não sou nem de longe petista, porém sei muito bem o que é ser parda ou negra, diante de um mundo cheio de racismo.
Quem está realmente preparado quando chega à universidade ? São raros, sendo brancos, negros ou índios.
É lá que as cabecas serão exercitadas e, com certeza, a do negro não será inferior para adquirir e contribuir com conhecimento, mesmo que ele, uma vez, tenha que trabalhar a mais em relacão aos que obtiveram vantagem sobre eles anteriormente.
Em relacão ao nossso "país modelo", USA, acabo de assistir uma reportagem, revelando que a segregacão social lá está mais forte do que nunca.
Muitos, em maior porcentagem de negros, estão estudando em escolas deterioradas e com péssima qualidade de ensino, enquanto pessoas mais privilegiadas socialmente, uma grande maioria de brancos, obtém altos índices em seus exames e estudam em luxuosas escolas.
Acho um tremendo egoísmo e falta de humanidade das pessoas que atiram pedras, ao invés de incentivarem políticas de igualdade social.
Acredito que deveríamos acolher com simpatia a busca de um mundo igualitário, o que talvez seja utopia de minha parte, quando vejo pessoas tão entusiastas em derrubar muros que nos separam uns dos outros.
Mônica Andersson
professora de educação básica
CONTRA
A política de cotas para estudantes negros nas universidades
pode fazer bonito em palanque, ajuda a
compor um belo discurso antidiscriminação, arranca
aplausos calorosos da audiência basbaque, mas é burra
e incongruente. Fere o princípio de que todos são iguais
perante a lei, e portanto uns não podem ser menos
iguais que outros. Traz embutida a suposição de que há
uma dívida a resgatar em virtude de injustiças cometidas
contra os negros no passado – outro equívoco, visto
que uma geração não pode pagar por erros cometidos
pelos antepassados. As cotas fazem ruir um preceito
fundamental numa seleção como o vestibular: o mérito.
“Que vençam os melhores.” Os negros devem ingressar
no ensino superior por merecimento. Não graças a uma
mãozinha, uma ajudinha.
As cotas estão no pacote da reforma universitária a
cargo do novo ministro da Educação, Tarso Genro.
Naturalmente, como fora da área econômica o governo
federal é orientado por estratégias de propaganda, e
tudo o que faz espuma é prioritário para Lula e sua
turma, as cotas têm tudo para ganhar força. O que é
preocupante.
Uma bobajada sem tamanho é discutir a questão sem
olhar para a experiência americana. Nos Estados
Unidos as cotas nasceram, foram instituídas em diversas
universidades, causaram furdunço, sofreram contestações
nos tribunais. E em 1978 a Suprema Corte
decidiu que a política de reserva de vagas para minorias
é inconstitucional. Depois da sentença, certas faculdades
passaram a adotar sistemas próprios de “preferências”.
Para ajudar na criação de um ambiente estimulante
do ponto de vista cultural, cada instituição avalia suas
peculiaridades e estebelece uma política.
Na Universidade de Michigan, ser negro, hispânico ou
indígena conta 20 pontos de um máximo de 150. Em
outras faculdades, ser atleta, pintor ou dançarino ajuda
na classificação. A direção de uma escola pode, por
exemplo, considerar válida a presença de um guitarrista
punk numa turma de Administração composta basicamente
por almofadinhas conservadores. De todo
modo, é sempre a instituição que decide a própria política
de preferência – ou mesmo se haverá alguma.
Isso faz toda a diferença. No Brasil, o que se viu quando
uma universidade teve de cumprir leis de cotas criadas
em Assembléia Legislativa foi uma completa bizarrice.
No ano passado, dos 1.969 negros aprovados no
vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj), apenas 329 conquistaram suas vagas pelo bom
desempenho nas provas. O restante, mais de 80 por
cento, entraram pelas cotas. Esses alunos obtiveram
notas muito inferiores a de colegas brancos que acabaram
reprovados.
Há mais um dado relevante a considerar. Ao preencher
a cota racial de 40%, a Uerj teve de selecionar os candidatos
melhor qualificados entre aqueles que se declararam
negros. Que eram, via de regra, oriundos de escolas
particulares. Ou seja: os grandes beneficiados foram
os alunos negros de classe média.
Os defensores da chamada “ação afirmativa” argumentam
que esses são equívocos menores frente a uma política
compensatória tão importante. Não são. São erros
graves que poderão causar sérios problemas. Daqui a
alguns anos, será que um paciente não desconfiará de um
cirurgião negro antes de se submeter a uma operação?
“Doutor, o senhor entrou na faculdade pelas cotas ou por
nota?” Há, sim, o risco de que profissionais negros sejam
vistos com desconfiança e tenham seu talento e potencial
contestados. O risco mais premente, no entanto, é a
queda da qualidade do ensino, já tão capenga. Os professores
terão de nivelar por baixo, para que alunos mal aparelhados
possam acompanhar as aulas.
Os ativistas também empunham a bandeira da dívida
histórica. Por esse raciocínio, é necessário compensar
os negros pelos anos de escravidão e injustiças. Ora, o
quê os estudantes brancos de hoje têm a ver com isso?
Nem do ponto de vista legal uma geração herda dívida
de outra. Se um cidadão morrer com um papagaio para
acertar, seu filho não tem de pagar por isso.
Na verdade, as cotas tentam corrigir no fim uma distorção
que deveria ser trabalhada no começo do ciclo
escolar. Negros e pardos somam 15 por cento dos alunos
matriculados no ensino superior, embora representem
45 por cento da população geral. É legítimo que
sejam discutidas políticas para ampliar a participação
deles nas universidades. Mas o melhor a fazer não é
criar uma brechinha no vestibular, com reserva de
vagas para alunos de desempenho medíocre. É mais
efetivo criar boas escolas de ensino básico para crianças
carentes, com apoio de ONG’s e empresas privadas. E
cursinhos pré-vestibulares, como os oferecidos pelo
Projeto Àfojúbá, com excelentes resultados, e pela
PUC-Rio, numa iniciativa premiada.
www.aol.com.br
Os negros devem ingressar nas universidades por
merecimento, graças ao bom desempenho no vestibular.
Não por meio de reserva de vagas
Abaixo as cotas para negros
Kaíke Nanne
Jornalista, é editor-executivo da AOL Brasil. Atuou nas revistas Playboy, Veja, Terra, Contigo e Época
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