23 de agosto de 2006

Cotas: A favor e contra

Recebi dois textos com o tema via e-mail. Reproduzo aqui:

A FAVOR (em tempo, eu sou a favor!)

Penso que é muito fácil apenas dizer não às cotas para negros, principalmente, quando não se é negro, porque não é, em primeira instância, por notas que muitos deles estão sendo inseridos nas universidades.
É muito comovente dizer que os brancos, de hoje, não devem pagar pelo que foi feito com os negros no passado. Claro, apenas os negros, de hoje, devem sofrer calados em seus cantos, sejam em classes altas, médias ou baixas, que é onde estão a maioria.
Se é por merecimento ou não, sou totalmente a favor de toda política de incentivo a melhoria de vida de geracões que foram admoestadas por anos e anos. E não sou nem de longe petista, porém sei muito bem o que é ser parda ou negra, diante de um mundo cheio de racismo.
Quem está realmente preparado quando chega à universidade ? São raros, sendo brancos, negros ou índios.
É lá que as cabecas serão exercitadas e, com certeza, a do negro não será inferior para adquirir e contribuir com conhecimento, mesmo que ele, uma vez, tenha que trabalhar a mais em relacão aos que obtiveram vantagem sobre eles anteriormente.
Em relacão ao nossso "país modelo", USA, acabo de assistir uma reportagem, revelando que a segregacão social lá está mais forte do que nunca.
Muitos, em maior porcentagem de negros, estão estudando em escolas deterioradas e com péssima qualidade de ensino, enquanto pessoas mais privilegiadas socialmente, uma grande maioria de brancos, obtém altos índices em seus exames e estudam em luxuosas escolas.
Acho um tremendo egoísmo e falta de humanidade das pessoas que atiram pedras, ao invés de incentivarem políticas de igualdade social.
Acredito que deveríamos acolher com simpatia a busca de um mundo igualitário, o que talvez seja utopia de minha parte, quando vejo pessoas tão entusiastas em derrubar muros que nos separam uns dos outros.

Mônica Andersson
professora de educação básica

CONTRA

A política de cotas para estudantes negros nas universidades

pode fazer bonito em palanque, ajuda a

compor um belo discurso antidiscriminação, arranca

aplausos calorosos da audiência basbaque, mas é burra

e incongruente. Fere o princípio de que todos são iguais

perante a lei, e portanto uns não podem ser menos

iguais que outros. Traz embutida a suposição de que há

uma dívida a resgatar em virtude de injustiças cometidas

contra os negros no passado – outro equívoco, visto

que uma geração não pode pagar por erros cometidos

pelos antepassados. As cotas fazem ruir um preceito

fundamental numa seleção como o vestibular: o mérito.

“Que vençam os melhores.” Os negros devem ingressar

no ensino superior por merecimento. Não graças a uma

mãozinha, uma ajudinha.

As cotas estão no pacote da reforma universitária a

cargo do novo ministro da Educação, Tarso Genro.

Naturalmente, como fora da área econômica o governo

federal é orientado por estratégias de propaganda, e

tudo o que faz espuma é prioritário para Lula e sua

turma, as cotas têm tudo para ganhar força. O que é

preocupante.

Uma bobajada sem tamanho é discutir a questão sem

olhar para a experiência americana. Nos Estados

Unidos as cotas nasceram, foram instituídas em diversas

universidades, causaram furdunço, sofreram contestações

nos tribunais. E em 1978 a Suprema Corte

decidiu que a política de reserva de vagas para minorias

é inconstitucional. Depois da sentença, certas faculdades

passaram a adotar sistemas próprios de “preferências”.

Para ajudar na criação de um ambiente estimulante

do ponto de vista cultural, cada instituição avalia suas

peculiaridades e estebelece uma política.

Na Universidade de Michigan, ser negro, hispânico ou

indígena conta 20 pontos de um máximo de 150. Em

outras faculdades, ser atleta, pintor ou dançarino ajuda

na classificação. A direção de uma escola pode, por

exemplo, considerar válida a presença de um guitarrista

punk numa turma de Administração composta basicamente

por almofadinhas conservadores. De todo

modo, é sempre a instituição que decide a própria política

de preferência – ou mesmo se haverá alguma.

Isso faz toda a diferença. No Brasil, o que se viu quando

uma universidade teve de cumprir leis de cotas criadas

em Assembléia Legislativa foi uma completa bizarrice.

No ano passado, dos 1.969 negros aprovados no

vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

(Uerj), apenas 329 conquistaram suas vagas pelo bom

desempenho nas provas. O restante, mais de 80 por

cento, entraram pelas cotas. Esses alunos obtiveram

notas muito inferiores a de colegas brancos que acabaram

reprovados.

Há mais um dado relevante a considerar. Ao preencher

a cota racial de 40%, a Uerj teve de selecionar os candidatos

melhor qualificados entre aqueles que se declararam

negros. Que eram, via de regra, oriundos de escolas

particulares. Ou seja: os grandes beneficiados foram

os alunos negros de classe média.

Os defensores da chamada “ação afirmativa” argumentam

que esses são equívocos menores frente a uma política

compensatória tão importante. Não são. São erros

graves que poderão causar sérios problemas. Daqui a

alguns anos, será que um paciente não desconfiará de um

cirurgião negro antes de se submeter a uma operação?

“Doutor, o senhor entrou na faculdade pelas cotas ou por

nota?” Há, sim, o risco de que profissionais negros sejam

vistos com desconfiança e tenham seu talento e potencial

contestados. O risco mais premente, no entanto, é a

queda da qualidade do ensino, já tão capenga. Os professores

terão de nivelar por baixo, para que alunos mal aparelhados

possam acompanhar as aulas.

Os ativistas também empunham a bandeira da dívida

histórica. Por esse raciocínio, é necessário compensar

os negros pelos anos de escravidão e injustiças. Ora, o

quê os estudantes brancos de hoje têm a ver com isso?

Nem do ponto de vista legal uma geração herda dívida

de outra. Se um cidadão morrer com um papagaio para

acertar, seu filho não tem de pagar por isso.

Na verdade, as cotas tentam corrigir no fim uma distorção

que deveria ser trabalhada no começo do ciclo

escolar. Negros e pardos somam 15 por cento dos alunos

matriculados no ensino superior, embora representem

45 por cento da população geral. É legítimo que

sejam discutidas políticas para ampliar a participação

deles nas universidades. Mas o melhor a fazer não é

criar uma brechinha no vestibular, com reserva de

vagas para alunos de desempenho medíocre. É mais

efetivo criar boas escolas de ensino básico para crianças

carentes, com apoio de ONG’s e empresas privadas. E

cursinhos pré-vestibulares, como os oferecidos pelo

Projeto Àfojúbá, com excelentes resultados, e pela

PUC-Rio, numa iniciativa premiada.

www.aol.com.br

Os negros devem ingressar nas universidades por

merecimento, graças ao bom desempenho no vestibular.

Não por meio de reserva de vagas

Abaixo as cotas para negros

Kaíke Nanne
Jornalista, é editor-executivo da AOL Brasil. Atuou nas revistas Playboy, Veja, Terra, Contigo e Época



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