27 de novembro de 2005

ANEXO

Vaca Estrela e Boi Fubá

Patativa do Assaré
do LP "A Terra é Naturá"

Seu dotô me dê licença pra minha história contar.
Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom, gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do currá.
Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.
Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar
Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.
Aquela seca medonha fez tudo se trapaiá,
Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar
Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.
Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá
Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá
Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá
Com sodade do Nordeste, dá vontade de aboiar
Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.
Vaca Estrela e Boi Fubá




Manuel Bandeira

Profundamente

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro,2001, pág. 81.
consultado em: http://www.releituras.com/mbandeira_menu.asp










VARIEDADE LINGÜÍSTICA

Pesquisar de maneira indireta variedade lingüística do aluno. Exemplo: usando um conto ou uma música com
variação regional e solicitando:
1- Pesquisa sobre palavras incomuns ou desconhecidas presentes no texto, consultando parentes ou dicionários,
2- Solicitar que pesquisem músicas feitas dentro de uma variação regional (pode ser, inclusive, músicas modernas feitas
usando uma grande quantidade de gírias) – pedir que consigam a letra e, se possível, a música gravada em CD ou fita.
3- Pedir que os próprios alunos produzam um texto dentro de uma variação regional. Eles podem observar seus parentes
e colegas mais próximos e anotar as “marcas” de sua fala que a diferenciam do que o aluno considera uma “fala culta”.
Esta parte do trabalho poderá ser feita em grupo.
Observação: Problematizar noções de fala e escrita “culta”, “padrão” ou “regional”. Incorporar particularidades
lingüísticas dos alunos, mostrar valor da “fala diferente” e como é possível produzir “falas” e “textos” em diferentes
estilos.
Um música sugerida para a parte 1:
Chover (ou invocação Para Um Dia Líquido)
(Letra: Lirinha e Clayton Barros; Música: Clayton Barros) Banda: Cordel do fogo encantado

O sabiá nu sertão
Quando canta me comove
Passa tRês meses cantando
E sem cantá passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantá quando chove*
Chuvê chuvê
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chuvê chuvê
Um terço pesado pra chuva descer
Chuvê chuvê
Até Maria deixou de moer
Chuvê chuvê
Banzo Batista, bagaço e banguê
Chuvê chuvê
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chuvê chuvê
Já que meu olho cansou de chover
Chuvê chuvê
Até Maria deixou de moer
Chuvê chuvê
Banzo Batista, bagaço e banguê
Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada tRuvão
De escapulir torrão
De paredão de tapera**
Bombo trovejou a chuva choveu
Chuveu chuveu
Lula Calixto virando Mateus
Chuveu chuveu
O bucho cheio de tudo que deu
Chuveu chuveu
suor e canseira depois que comeu
Chuveu chuveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Chuveu chuveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Chuveu chuveu
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola**
Seu boiadeiro por aqui chuveu
Seu boiadeiro por aqui chuveu
Chuveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou***

citações: *Zé Bernardinho, **João Paraíbano, ***Toque pra boiadeiro
Observação: Esta transcrição foi revista por mim para se aproximar da pronúncia dos cantores.

Lirinha: pandeiro e voz, Clayton Barros: violões e voz,Emerson Calado: surdo e voz, Nego Henrique: congas, gonguê, ilu e voz, Rafa Almeida: gonguê, bombo de macaíba e voz, participações especiais: Dona Mira, Janediva, Sandra Pimentel, Conceição dos Prazeres, Kiko Klaus, Guty e Joaquim Felipe; Naná Vasconcelos - efeitos percussivos (produtor do 1º disco da banda, onde consta esta música).
Consultar:©2001kolho.www.cordeldofogoencantado.hpg.com.br feita pela kolho™ por henrique

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