27 de novembro de 2005

Diga Não à GLOBO

Já publiquei esta notícia antes - Mas aqui ela está mais completa, em texto de Lobo Schmidt do sítio http://toca-do-lobo.blogspot.com

Segunda-feira, Março 28, 2005

Muito além do Cidadão Kane - Um documentário anti-TV Globo

Se tu assististe Fahrenheit 9/11 e achou algo fenomenal, congratulações, tu és um idiota. Não que o documentário seja ruim, pelo contrário, ele é realmente bom e mostra vários podres do império norte-americano. Mas, por outro lado, ele foi feito destinado a um público especifico: Os norte-americanos. Sim, porque aquele Sr. Moore nada mais é que um americano indignado com o que o Sr. Bush está fazendo com o país que ele ama tanto e que instituiu padrões de vida pro resto do mundo. Ou seja, o Sr. Moore é um grande idiota.

Mas agora, se tu assististe ao Fahrenheit 9/11 ou não assistiu mas está interessado em um documentário mais, digamos, espacialmente útil, sugiro que dê atenção às próximas linhas retiradas do saite ninguém presta:

"cenas de crianças de rua cheirando cola se alternam com trechos do programa Xou da Xuxa em que ela canta "todo mundo está feliz, todo mundo quer dançar". um homem descarrega um caminhão frigorífico e com uma peça de carne às costas diz: "só carrego, nunca como"; na seqüência, alguém recomenda que para se ter um cachorrinho saudável deve-se alimentá-lo com "carne três vezes ao dia". um deputado diz que "aparecer em qualquer programa da Globo, mesmo que esporadicamente, possibilita a reeleição de um deputado ou senador".
Ignore esses golpes baixos para inglês ver e siga em frente, ainda há muito para você:
o começo em 1965, já durante a ditadura militar; o acordo ilegal mas muito vantajoso com o grupo Time-Life; a encarnação do desejo militar de integração nacional; o misterioso e oportuno incêndio nos estúdios paulistas, cujo seguro foi fundamental para a expansão da rede; o cancelamento da concessão da Excelsior em 1970 (única empresa de TV a se opôr ao golpe militar e principal concorrente da Globo); o escândalo NEC/Brasil; a "cobertura" das Diretas-Já; o auxílio dado à tentativa de fraude nas eleições cariocas de 1982 para impedir a vitória de Leonel Brizola e a edição do debate Collor/Lula em 1989.
Ainda tem mais, é claro, ainda há muita coisa engraçada:
Washington Olivetto diz que tem a impressão de que o Brasil não foi descoberto, mas sim escrito e que não fala português, mas sim "globês"; em 1972, o presidente Médici, no auge dos anos de chumbo, sente-se "feliz, todas as noites, quando assiste aos noticiários da Globo", pois "no Jornal Nacional o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz"; Armando Falcão, ex-Ministro da Justiça, explica que "acusam a Globo de monopólio, dizem que ela é um Estado dentro do Estado ... não concordo, se há monopólio por parte da Globo, é o monopólio da competência"; a família Silva, que mora em uma favela de Salvador, acredita em tudo o que vê no Jornal Nacional; no Rio, a Polícia Federal prende várias pessoas por simplesmente assistirem uma TV pirata que conseguiu ir ao ar por menos de uma hora e apresentar uma montagem em que o Sr Roberto Marinho ensina como montar uma emisora pirata de TV.
Em visita ao Brasil, nos anos 80, o inglês Simon Hogarth conheceu o império do Sr Roberto Marinho e com ele se impressionou tanto, que depois de cinco anos de pesquisas fez o documentário "Beyond Citizen Kane" (em alusão ao filme "Cidadão Kane", de Orson Wells, sobre a vida de um supermagnata da mídia), sobre a Rede Globo e o homem por trás dela.
Com o propósito de tentar entender como um só homem pode dominar a forma como toda uma nação recebe a sua informação (já que estamos falando de TV e de Brasil), este documentário tenta mostrar como essa situação foi construída e, paralelamente a isso, resume também a história da televisão no país.
Mas nada disso foi fácil. Mesmo na Inglaterra o Channel 4 teve problemas para exibi-lo, só conseguindo isso após uma batalha judicial de mais de um ano com os advogados da Rede Globo. Logo após a exibição, Geraldo de Anhaia Mello, que na época era o responsável pelo setor de TV do MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo, conseguiu uma cópia do documentário que foi gravado por uma brasileira em Londres. A sua intenção era exibir a fita para o público, o que chegou a ser feito por duas vezes.
Porém, antes da terceira, a fita foi confiscada por ordem do Governador Fleury, através do Secretário de Cultura da época, Ricardo Ohtake. Por isso, em 1993 ele resolveu lançar esse livrinho de cerca de 80 páginas, onde descreve o conteúdo do vídeo proibido.
É verdade que atualmente as coisas são um pouco diferentes por aqui, mas nem tanto: as audiências da Rede Globo já não são tão esmagadoras quanto foram um dia e hoje ela tem pelo menos dois concorrentes sérios (SBT e Record); além de, declaradamente, estar tentando construir um jornalismo mais crítico e imparcial. É verdade também que, atualmente, este "documentário proibido" já é encontrado facilmente em qualquer faculdade de jornalismo ou sindicato, mesmo que na forma de cópias piratas. É verdade ainda que tanto o vídeo (que, dizem, só foi produzido pelos ingleses para tentar barrar o avanço da Globo na Europa, numa prova de que, realmente, ninguém presta) é superficial e não muito esclarecedor em alguns pontos (e é claro que isso acontece por limitações óbvias de tempo, mas numa ironia involuntária o autor do livro acerta na mosca ao chamar o documentário de o "Je Vous Salue Marie dos anos 90"), quanto o livro é somente uma obra feitas às pressas, sem maiores esclarecimentos, apresentando somente a transcrição literal da narração original.
Enfim, talvez tudo isso seja realmente motivo para considerar "Muito Além do Cidadão Kane" (vídeo ou livro, não importa) como algo datado, testemunha de uma época que já passou, mas eu acredito que o que ocorre é justamente o contrário: em uma entrevista à revista General em 1994, John Ellis, sócio de Hogarth na produção do vídeo, disse que "impedir alguém de dizer algo é, digamos, um tipo mais cômodo de censura. Mas quando todo mundo está conformado, todo mundo acha que é impossível de mudar a situação, quando só se reclama mas não se faz nada de concreto, chega uma hora em que você nem pensa mais no assunto. Isso é censura de verdade. (...) Muitos brasileiros me disseram 'não há nada de novo nesse documentário, todo mundo sabe dessas coisas'. É lamentável ...". Ou seja, não se deve ficar aliviado ao ver entrevistas ao vivo com presidenciáveis no Jornal Nacional, nem tão pouco com o crescimento do Sr Sílvio Santos ou do Bispo Macedo e muito menos ainda por ter que se contentar com um material precário como esse para se analisar toda uma época, a não ser que você queira se entregar a um conformismo fácil ao invés de querer ter e saber mais.
Tendo isso em mente, no final das contas quem mata mesmo a charada é o velho Leonel Brizola, que no filme classifica o Sr Roberto Marinho como um "Stálin das comunicações", por mandar os adversários para a "Sibéria do esquecimento". Isso faz mesmo muito sentido quando se vê os métodos realmente stalinistas de se esconder a verdade empregados em casos como o do Riocentro, das Diretas-Já e da famosa edição do debate Collor/Lula; mas lembrando o que disse John Ellis, eu acrescentaria que o Sr Roberto Marinho é o que é por conseguir ser, além de um "Stálin", um "Khrushchev" de si mesmo quando denuncia os crimes do seu "eu" antecessor, querendo nos convencer de que algo mudará de agora em diante.

E aqui, neste endereço possui o link para download do filme em vários tamanhos e partições dietéticas:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08/260618.shtml


Lobo Schmidt

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