1 de outubro de 2005

Renato Russo - trechos de entrevistas

Do Livro Conversações com Renato Russo (entrevistas), editora Letra Livre, 1996, que o irmão da colega Jéssica me emprestou.:


páginas:

32- Não existem fins, existem meios. Eu sempre penso em começos, nunca em fins.

32 e 33- (sobre show em Belém, 27/02) Eu não abandonei o show. Acontece o sequinte: eu não tenho que ficar recebendo lata de cerveja na cabeça e continuar cantando por causa do salário. Ah, mas não tenho mesmo! O público fica naquela euforia, mas eles não respeitam. Qual é, será que eles não percebem que nós estamos do lado deles? Que a gente está cantando coisas positivas, não está falando “taquem uma garrafa de cerveja na cabeça da gente, porque eu sou mau”. A gente está falando: “Brigar pra quê/ se é sem querer.”! Já tinha tido um incidente com o Arnaldo (dos Titãs) e eu falei: podem tacar uma bolinha de papel, se foi feito com má intenção, eu paro! Tá pensando o quê? Eu não sou mártir, não tenho que ficar aguentando moleque mal resolvido...


44 e 45 – (sobre opiniões de Ferreira Gullar) Como a nova geração vai ter respeito pela mais velha, se esta a ataca e está cheia de preconceitos?


46- ... O que acontece é que o homem matou Deus e hoje as pessoas estão sem fé nenhuma. Na verdade, o Deus cristão matou todas as divindades pagãs antes.


Entrevistador: É curioso como isso lembra Nietzsche e sua tese sobre a morte de Deus e o niilismo do último homem.


Mas isso é Nietzsche! O super-homem é o homem espiritual, aquele que tira o sentido e o valor de si, de seus atos. Como ele disse que o homem estaria para o super-homem assim como o macaco está para o homem, eu vejo a mesma coisa em Jesus Cristo, por exemplo. Na verdade, Nietzsche é um homem à procura de deus. Um deus que não é o Deus cristão.


56- Você tentou construir uma casa e nem chegou a delimitar o terreno. Como você vai ensinar o mais jovem a construir uma casa? Porque ele vai virar e vai falar assim: 'Tudo bem, eu até admiro que você queira me ensinar, mas você não tem capacidade, porque você tentou deseperadamente e não conseguiu.”


62- Então é a tal história, se da primeira vez me queimei porque a sopa estava muito quente, da próxima vez vou pegar a colherinha e soprar até esfriar. Então tem certas coisas que a gente já viu. É como se estivéssemos antes no pré-primário e agora na segunda série (...)


79 e 80- Tudo tem sua origem. Há certas coisas que escrevo e que aconteceram realmente comigo, outras com amigos, mas a partir do momento em que o negócio fica pronto, é como se fosse meu alter ego. Até uma música ficar pronta já entraram tantas influências! Mesmo “Acrilic on Canvas”, que é algo especificamente sobre uma experiência minha, não é alguma coisa literal, porque a partir do instante em que você passa para o papel, você inventa. Por isso é que vira música, senão eu escreveria diários.


101- Entrevistador- O que você diria a uma pessoa que acha o verso “Disciplina é liberdade” fascista?


É claro que não é! Ali eu estou falando de autodisciplina. Se você pensar numa relação sujeito-objeto é fascista, mas numa relação sujeito-sujeito, não é. Não é: “Eu vou disciplinar você”. A natureza é disciplinada. Eu preciso de muita disciplina! Fica tão bonito escrito “Disciplina é liberdade”, É uma inversão do double think do 1984: “Liberdade é escravidão”, “Ignorância é força”. Se você tiver um conceito legal de liberdade, imediatamente surge uma idéia positiva. Mas eu acho bacana que as pessoas se preocupem. Deve ser uma questão importante para essa pessoa, para o verso chamar a atenção. O que mais me chama a atenção nessa música é: “Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa”.


132- (sobre Ecologia) Vai ser uma sacanagem da minha parte se eu não me importar mais com a Floresta Amazônica.

Eu, qualquer coisa, viro Blade Runner. Arrumo uma sala como essa, boto tudo o que eu preciso ali dentro e foda-se. Mas não dá, temos de pensar nas outras pessoas, principalmente nas que estão vindo agora. É a maior injustiça eles não terem o mundo que você teve.


145- Gente que usa droga é muito chata; ela só é legal para quem está drogado também.


158- (no cápitulo BEATLES, JESUS CRISTO E RIVELINO sobre suas preferênicas) - Mulher inteligente: Marina Colassanti e Adélia Prado. “Toda mulher é inteligente.”


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E, como Renato Russo citou Nietzsche, nada melhor do que lembrarmos um pensamento do mestre
Neste trecho, que copio da revista CULT Nº 37, mas pertence ao livro ASSIM FALOU ZARATUSTRA, o superhomem é traduzido (de maneira mais adequada) como "além do homem"

"O homem é uma corda estendida entre o homem e o além-do-homem - uma corda sobre o abismo. Um perigoso passar para o outro lado, um perigoso caminhar, um perigoso olhar para trás, um perigoso estremecer e parar. A grandeza do homem está em ser ele uma ponte, e não um fim: o que se pode amar no homem é que ele é uma passagem e um crepúsculo."

Nietzsche






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